Os
Estudos de Percepção Ambiental surgem no contexto da Geografia da Percepção e
do Comportamento Ambiental no início dos anos setenta, contrapondo-se à “Nova
Geografia”, positivista e quantitativa, que segundo Amorim Filho, “negligenciou
o papel das percepções e dos valores do homem em relação ao meio ambiente e na
explicação dos padrões espaciais” (1999)[1]. A metodologia dos “espaços vividos e
valorizados” parte do pressuposto que as pessoas se comportam no mundo real,
com base em imagens subjetivas e não de conhecimentos objetivos. Essa corrente
se caracteriza pela interseção entre ciências como a geografia, a psicologia e
a sociologia, tendo como foco de pesquisa a análise da percepção ambiental, da
percepção de componentes espaciais e do comportamento espacial de indivíduos ou
grupos sociais. Diversas são as formas de estudar a percepção ambiental:
questionários, mapas mentais ou contornos, representação fotográfica,
observações participantes, etc.
Amorim
Filho (1999) destaca a importância de MERLEAU-PONTY, filósofo francês, para a
geografia atual, devido à sua contribuição aos estudos ligados à percepção, ao
espaço vivido e ao mundo percebido. Para ele,
A percepção não é nem uma sensação
considerada apenas como individual – subjetiva, nem um ato de inteligência: é o
que liga uma e outra à unidade da situação do mundo. Assim, as formas de
percepção não se desenvolvem apenas com a própria evolução psicológica do
sujeito que percebe, mas, também e muitíssimo, de acordo com as situações desse
e dos outros homens no mundo.[2]
Essa
corrente geográfica tem como suporte teórico e filosófico a fenomenologia, o existencialismo e outras escolas da filosofia crítica. Eles têm
como base os valores e representações mentais da humanidade, seja do ponto de
vista do indivíduo , seja do ponto de vista dos grupos sociais. Sobre a
contribuição da fenomenologia para os
estudos da percepção ambiental e dos espaços vividos, considera-se que
“O objetivo da Fenomenologia é reconstruir
os mundos dos indivíduos, nos quais os fenômenos estão presentes como
repositórios de significados. Isto conduz à compreensão do comportamento nesses
mundos, o que é diferente da explicação positivista, na medida em que a última
é um constructo imposto pelo analista, enquanto uma compreensão (fenomenológica
) usa os termos e os conceitos do ator.[3]
Estudos de Percepção
Ambiental são de grande importância em projetos que envolvem questões
ambientais. A base dos estudos dentro dessa corrente está diretamente ligada ao
empírico, relevando os valores e as percepções individuais e de pequenos
grupos, seja na descrição e na análise da organização dos espaços e paisagens
atuais, no planejamento da organização desses espaços e paisagens no futuro,
e/ou no exercício da cidadania. Os estudos perceptivos buscam identificar e
compreender as particularidades dos indivíduos e grupos no território. Sendo
assim,
“no fundo o que os
estudos perceptivos pretendem é cobrir realidade que se acredita serem da maior
relevância para os seres humanos e que são, ou simplesmente ignoradas, ou
tratadas de forma periférica pelos seguidores daqueles paradigmas. Trata-se,
portanto, da abertura de um espaço de ação, reflexão e discussão, para aqueles
que consideram que os estudos das imagens e das percepções pessoais de lugares,
dos valores, das motivações e preferências espaciais, das visões do mundo, das
reações em relação aos riscos naturais, de paisagens belas, aconchegantes, ou
hostis, como algo que, por sua aplicabilidade prática, ou pela simples procura
do prazer, vale a pena fazer”. 4
Para Lucrecia D’Alessio Ferrara,
em “As Cidades Ilegíveis: Percepção Ambiental e Cidadania” ressalta a
importância da utilização dos estudos perceptivos no processo de planejamento
futuro dos espaços e o exercício da cidadania:
“A cidade se molda no constante fluxo das suas
representações enquanto desafios perceptivos que, se respondidos, levam o
morador a interferir sobre os destinos urbanos transformando-os em cidadão na
defesa dos interesses coletivos. Na realidade, os desafios perceptivos e suas
respostas são os vetores da cidadania, enquanto aprendizagem e exercício”[4].
Gonçalves (1989),
outro autor citado, acrescenta que
“a questão ambiental não pode ser reduzida ao campo
específico das ciências da natureza ou das ciências humanas. Ela diz respeito
ao modo como a sociedade se relaciona com natureza. Nela estão implicadas as
relações sociais e as complexas relações entre o mundo
físico-químico e orgânico[5].
Assim
os Estudos de Percepção Ambiental constituem elementos de grande importância na
compreensão das inter-relações entre o homem e o ambiente, pois contribuem com
critérios e avaliações advindos das expectativas, satisfações e insatisfações,
julgamentos e condutas do indivíduo.
Para melhor situar a discussão
sobre percepção ambiental, torna-se importante considerar o que se entende por
percepção comunitária e por avaliação participativa. Tomou-se por percepção
comunitária, a percepção de determinada comunidade sobre determinado objeto ou
situação. E por avaliação participativa
o parecer de um grupo de pessoas sobre o objeto de consenso.
Como a idéia de comunidade pode
remeter a significados e situações diversas, os estudos de percepção ambiental
deverão ser desenvolvidos a partir da percepção dos grupos sobre determinado objeto ou situação. Nesse sentido, considera-se que
uma comunidade de especialistas seja capaz de perceber e apontar as
conseqüências quanto à permanência desse objeto ou situação.
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