segunda-feira, 22 de junho de 2015

Estudos de Percepção Ambiental - síntese

 

Os Estudos de Percepção Ambiental surgem no contexto da Geografia da Percepção e do Comportamento Ambiental no início dos anos setenta, contrapondo-se à “Nova Geografia”, positivista e quantitativa, que segundo Amorim Filho, “negligenciou o papel das percepções e dos valores do homem em relação ao meio ambiente e na explicação dos padrões espaciais” (1999)[1].  A metodologia dos “espaços vividos e valorizados” parte do pressuposto que as pessoas se comportam no mundo real, com base em imagens subjetivas e não de conhecimentos objetivos. Essa corrente se caracteriza pela interseção entre ciências como a geografia, a psicologia e a sociologia, tendo como foco de pesquisa a análise da percepção ambiental, da percepção de componentes espaciais e do comportamento espacial de indivíduos ou grupos sociais. Diversas são as formas de estudar a percepção ambiental: questionários, mapas mentais ou contornos, representação fotográfica, observações participantes, etc.
Amorim Filho (1999) destaca a importância de MERLEAU-PONTY, filósofo francês, para a geografia atual, devido à sua contribuição aos estudos ligados à percepção, ao espaço vivido e ao mundo percebido. Para ele,

A percepção não é nem uma sensação considerada apenas como individual – subjetiva, nem um ato de inteligência: é o que liga uma e outra à unidade da situação do mundo. Assim, as formas de percepção não se desenvolvem apenas com a própria evolução psicológica do sujeito que percebe, mas, também e muitíssimo, de acordo com as situações desse e dos outros homens no mundo.[2]

Essa corrente geográfica tem como suporte teórico e filosófico a fenomenologia, o existencialismo e outras escolas da filosofia crítica. Eles têm como base os valores e representações mentais da humanidade, seja do ponto de vista do indivíduo , seja do ponto de vista dos grupos sociais. Sobre a contribuição da fenomenologia para os estudos da percepção ambiental e dos espaços vividos, considera-se que

“O objetivo da Fenomenologia é reconstruir os mundos dos indivíduos, nos quais os fenômenos estão presentes como repositórios de significados. Isto conduz à compreensão do comportamento nesses mundos, o que é diferente da explicação positivista, na medida em que a última é um constructo imposto pelo analista, enquanto uma compreensão (fenomenológica ) usa os termos e os conceitos do ator.[3]

Estudos de Percepção Ambiental são de grande importância em projetos que envolvem questões ambientais. A base dos estudos dentro dessa corrente está diretamente ligada ao empírico, relevando os valores e as percepções individuais e de pequenos grupos, seja na descrição e na análise da organização dos espaços e paisagens atuais, no planejamento da organização desses espaços e paisagens no futuro, e/ou no exercício da cidadania. Os estudos perceptivos buscam identificar e compreender as particularidades dos indivíduos e grupos no território. Sendo assim,

“no fundo o que os estudos perceptivos pretendem é cobrir realidade que se acredita serem da maior relevância para os seres humanos e que são, ou simplesmente ignoradas, ou tratadas de forma periférica pelos seguidores daqueles paradigmas. Trata-se, portanto, da abertura de um espaço de ação, reflexão e discussão, para aqueles que consideram que os estudos das imagens e das percepções pessoais de lugares, dos valores, das motivações e preferências espaciais, das visões do mundo, das reações em relação aos riscos naturais, de paisagens belas, aconchegantes, ou hostis, como algo que, por sua aplicabilidade prática, ou pela simples procura do prazer, vale a pena fazer”. 4

Para Lucrecia D’Alessio Ferrara, em “As Cidades Ilegíveis: Percepção Ambiental e Cidadania” ressalta a importância da utilização dos estudos perceptivos no processo de planejamento futuro dos espaços e o exercício da cidadania:

“A cidade se molda no constante fluxo das suas representações enquanto desafios perceptivos que, se respondidos, levam o morador a interferir sobre os destinos urbanos transformando-os em cidadão na defesa dos interesses coletivos. Na realidade, os desafios perceptivos e suas respostas são os vetores da cidadania, enquanto aprendizagem e exercício”[4].

Gonçalves (1989), outro autor citado, acrescenta que

“a questão ambiental não pode ser reduzida ao campo específico das ciências da natureza ou das ciências humanas. Ela diz respeito ao modo como a sociedade se relaciona com natureza. Nela estão implicadas as relações sociais e as complexas relações entre o mundo físico-químico e orgânico[5].

Assim os Estudos de Percepção Ambiental constituem elementos de grande importância na compreensão das inter-relações entre o homem e o ambiente, pois contribuem com critérios e avaliações advindos das expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas do  indivíduo.

Para melhor situar a discussão sobre percepção ambiental, torna-se importante considerar o que se entende por percepção comunitária e por avaliação participativa. Tomou-se por percepção comunitária, a percepção de determinada comunidade sobre determinado objeto ou situação. E por avaliação participativa  o parecer de um grupo de pessoas sobre o objeto de consenso.

Como a idéia de comunidade pode remeter a significados e situações diversas, os estudos de percepção ambiental deverão ser desenvolvidos a partir da percepção dos grupos sobre determinado objeto ou situação. Nesse sentido, considera-se que uma comunidade de especialistas seja capaz de perceber e apontar as conseqüências quanto à permanência desse objeto ou situação.



[1] AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno. A Evolução do Pensamento Geográfico e a Fenomenologia.   Revista Sociedade e Natureza, 11(21e22). Jan.dez.1999
[2] Idem.
[3] Idem.
[4] Idem.
[5] Idem.

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